Ruas da Zona Residencial

Pelo canto dos olhos percebeu uma mudança em suas ações, ele parecia distraído e pensativo por alguns segundos e ela sabia disso porque também tinha momentos assim. E justamente por saber que fingiu não ter visto, lhe dando espaço para se recuperar, ficou apenas caminhando ao seu lado em silêncio. Quando virou o rosto em sua direção e viu que ele tinha voltado a normal chegou a sorrir e passar o braço esquerdo em volta do dele. ー É disso que to falando! Batata frita, nada cozida ou assada! ー As vezes era energética demais, tanto que os que passavam na rua olhavam em sua direção e cochichavam entre si, mas isso de forma alguma a afetava, afinal isso acontecia com certa frequência quando ainda morava nos Estados Unidos. Por isso simplesmente ignorou e continuou a conversa. ー Vejamos, como posso saber mais sobre você sem tocar numa mina terrestre? ー Com a mão livre, retirou uma mecha do cabelo que batia em seu rosto para atrás da orelha enquanto olhava em volta a procura do fast food. 

Estava realmente um pouco tímido por estar andando ao lado dela, mas aos poucos seu rosto subia enquanto encarava melhor o caminho, o loiro notou a aproximação dela e quando ela pegou em seu braço, seu rosto ficou quente por um breve momento enquanto tentava disfarçar respondendo a pergunta. — Ah.. Não acho que tenha algo sobre mim que seja interessante, por que você não me fala sobre você? Parece que você chama muita atenção, deve ser alguém muito importante... Esta aqui a quanto tempo mesmo?

Perguntou como se não soubesse a resposta, na realidade conhecia bem aquela garota na teoria devido sua missão, mas mesmo assim ainda tentava puxar assunto e fazê-la se sentir mais a vontade, ainda mais do que já estava.

Um bico se formou nos lábios, sem tentar esconder a frustração com a falha de tentar fazer com que ele falasse algo sobre si. Mas acabou aceitando com um suspiro pensativo, pensando no que deveria dizer em resposta. ー Eu acho que os japoneses só não gostam de gente como eu. E quanto a estar aqui, hmm.... Um ano e meio? Por aí. ー Levou a mão livre até o bolso do casaco ainda distraída e pensando na resposta. O tempo tinha corrido tão rapidamente que não tinha notado que já estava ali todo esse tempo. Estava sendo tudo tão tranquilo que acabou perdendo noção da sua realidade. Molhou os lábios numa tentativa de se concentrar e não deixar que a conversar tomasse um rumo desagradável. ー Sabia que eu sei tocar piano? Embora eu não pratique faz uns dois anos, eu sou realmente boa nisso! 

Procurava não entrar em assuntos a qual deixava ela desconfortável, os anos realmente passaram rápidos nem parecia que fazia um ano que ele estava ali também, um sorriso um pouco nostálgico invadiu os lábios do loiro que tentou disfarçar com a revelação da garota. — Piano? Nossa, é um instrumento com uma melodia muito bonita. Gostaria de vê-la tocando algum dia, assim ficamos quites já que você me vê cantar e tocar quase sempre na cafeteria.

ー Pois é! Eu era a melhor da minha turma, quase entrei em competições, mas tive que focar nos estudos, esse era o foco que importava para os meus pais.ーNão importava o que falasse, era difícil negar a existência de duas pessoas que lhe acompanharam a vida toda, não tinha como simplesmente fugir daquele assunto. Seus olhos começavam a arder quando ela retirou a mão do casa ao e massageou as têmporas numa tentativa de se acalmar. ー Realmente eles eram bem rígidos, eu sei de tudo um pouco, mas nunca conclui nada, porque a única coisa que sempre importou foi os estudos. ー Já não tentava mais se segurar, a mão abaixou e pendeu ao lado do corpo enquanto os olhos focavam na paisagem a sua frente. O sorriso tinha desaparecido, mas a expressão permanecia neutra, quase como se estivesse anestesiada. 

Ela parecia ficar desconfortável com o assunto, não sabia como deixa-la melhor com aquela situação a não ser mudar o rumo da conversa, o loiro então sorriu agora um pouco menos tímido enquanto puxava ela um pouco mais perto. — Então pro isso você é bem inteligente. Mas de qualquer forma, você deve dar atenção a seu dom, quero ouvir você tocar piano ainda.

Ao sentir o puxão Chiharu sentiu que retornou pra realidade com um estalo, fazendo com que seus olhos arregalassem de surpresa. ー Bem, sim. Não sei onde vou arrumar um piano, mas está anotado. ー Um risada falha escapou dos lábios, embora ainda se sentisse um pouco alheia das coisas a sua volta, estava melhor do que antes. O sorriso começava a voltar aos poucos, ainda mais quando se deu conta que o rapaz estava fazendo aquilo para anima-la. Foi então que seus olhos focaram na loja não muito longe dali, seu objetivo não estava tão longe quanto imaginava. Ela apertou o braço dele enquanto erguia o outro braço na direção do McDonalds. ー Chegamos finalmente, batata frita me espere! ー Julgado que ele já estava olhando na direção, em o puxou para ir mais rápido, mas obviamente tomando cuidado para que os dois não tropeçassem no meio da rua.

Seu plano de uma parte sobre anima-la parece ter dado certo, não se importou muito com o resto, sobre o piano ele ficou um pouco pensativo em relação a onde conseguiria achar, mas ao mesmo tempo se perguntou se iria ser uma lembrança boa pra ela. — Finalmente. 

Disse em um som aliviado, sentiu ela arrastando-o mais rápido para a lanchonete, riu baixo enquanto seguia a garota com cuidado para não cair.

Ao chegaram na rua, ela tentava andar num ritmo constante para que não atrasasse o rapaz e nem deixasse transparecer o incomodo que era andar na rua tão tarde da noite.

Andava segundo o ritmo que ela seguia, o rosto baixo encarava todo o caminho a qual seguia, estava ainda um pouco tímido por estar muito perto dela, encarava o chão, mas era nítido que ele não estava mais tão tímido quanto antes. — Ah, esqueci de te falar, você comentou sobre pedirem meu numero pra você, mas você também não fica atrás, né? Muitos homens vão lá pra te ver. — Riu baixo enquanto erguia um pouco o rosto para encara-la.

Ergueu uma sobrancelha quando ouviu o que ele tinha falado. Não era do seu normal começar aquele tipo de conversa, mas ela apenas fez um bico enquanto olhava pra cima. ー Você acha? Talvez eu devesse dar uma chance pra algum. ー Voltando a olhar para baixo, começou a chutar pequenas pedras no caminho.

— Eu concordo, vai que acha seu príncipe. — Falava de uma forma um pouco mais aberta para ela, queria apenas que ela ficasse feliz ou algo do tipo, notando ela estranha após tocar no assunto, o loiro tossiu um pouco falso enquanto limpava a garganta. Não era acostumado a puxar assuntos, não gostava na verdade, mas precisava mante-la entretida pelo menos até voltarem para casa.

— Acha que JiMyung esta doente? Ela não costuma faltar ao trabalho.